Quotidiano: Século XVI
Classes sociais
"Nos finais da Idade Média, a tradicional divisão tripartida da sociedade, em clero, nobreza e povo, foi sendo substituída por uma classificação mais complexa e muito mais fluida, que refletia as enormes transformações sociais do período. Transições de classes adquiriram carácter menos rígido e subdivisões adentro de cada uma daquelas três ordens começaram a desempenhar papel social cada vez de maior relevo."

Outras Informações
Dicionário:
Burguesia
Clero
Nobreza
Povo
Bibliografia:
MARQUES, O. História de Portugal.

Classes sociais-Nobreza (2)
"A partir dos fins do século XV, o número de nobres residentes na corte (...) aumentaria significativamente, já que, se no tempo de D. Afonso V o seu número era de 1092 e a política joanina os limitou a 264, com D. Manuel subiriam até 894, para alcançarem os 2493 no tempo de D. João III.
(...) Sobretudo no século XVI, a nobreza cortesã (...) conheceu uma grande amplitude e reforçada influência, após as descobertas e conquistas no Índico e no Atlântico Sul, através do exercício de cargos governativos de grande autonomia, como sejam os de governadores, vice-reis, capitães de fortalezas e donatários."

Outras Informações
Dicionário:
Autonomia
Capitão-donatário
Corte
Fortaleza
Nobreza
Vice-rei
Bibliografia:
COELHO, M. F. A Evolução Social entre 1481 e 1640. História de Portugal. (Direcção de José Hermano Saraiva).

Classes sociais-Nobreza (3)
"As atividades da nobreza, no século XVI, "(...) eram já extensíveis ao Oriente, ao Brasil e ao interior africano, numa multiplicidade de operações mercantis e financeiras que provocou (...) [um seu robustecimento] (...) simultaneamente a um aumento numérico determinado por um esbatimento das barreiras sociais existentes. Foi o caso de muitos mareantes, pilotos, comerciantes, construtores de navios e mercadores, que obtiveram privilégios de fidalguia, pelo menos de cavaleiros, como coroação da política de penetração na ordem nobiliárquica conduzida por certos sectores do terceiro estado, a qual obstou ao surto de um Portugal mercantil e de uma burguesia com valores próprios.
Segundo Vitorino Magalhães Godinho , entre os moradores da casa de D. João II, "figuram como cavaleiros 3 filhos de doutores, 2 filhos de licenciados, 9 escrivães, 2 mestres de naus, 7 pilotos, 5 funcionários da Fazenda, além de um tesoureiro da especiaria, dois filhos do capitalista Bartolomeu Marchione, outro negociante italiano; e como escudeiros-fidalgos, 3 filhos de licenciados, 6 filhos de doutores, os filhos do contador-mor, o provedor-mor dos Contos, dois mercadores (...); moços fidalgos, temos um filho de bacharel, 12 filhos de licenciados, 28 filhos de doutores, 5 filhos de funcionários superiores da Fazenda (...)"."

Outras Informações
Dicionário:
Burguesia
Cavaleiro
Mercador
Nobreza
Privilégio
Contador-mor
Bibliografia:
COELHO, M. F. A Evolução Social entre 1481 e 1640. História de Portugal. (Direcção de José Hermano Saraiva).

Classes sociais-Nobreza (4)
"Independentemente das suas atividades mercantis ou outras, a nobreza laica e eclesiástica continuava a ter como principal fonte de receitas a renda da propriedade fundiária, de acordo com relações de produção que vinham já da época medieval. (...) Nem sempre as outras fontes de rendimento da nobreza, como as tenças, (...) casamentos e outros subsídios eventuais ou permanentes concedidos pelo Estado, permitiriam uma solução compensatória, já que o próprio Estado se encontrava numa situação deficitária que inviabilizava um aumento significativo dos referidos benefícios, dada a própria desvalorização da moeda, ou um alargamento a um maior número de pessoas.(...)
Há que acentuar que o fenómeno de alargamento das necessidades vitais, próprio da Renascença, contribuía para o desequilíbrio entre as receitas da nobreza e as despesas requeridas para a manutenção do seu estado. (...)
Ao longo do século XVI, uma vasta literatura, assumindo por vezes a forma de sátira mordaz e ridicularizante, pôs em evidência as dificuldades de certos sectores nobilitados, sobretudo dos seus escalões mais ínfimos e parasitários, como o dos escudeiros, ou daqueles que se situam na zona neutra entre privilegiados e não privilegiados (...). "

Outras Informações
Dicionário:
Clero
Défice
Escudeiro
Nobreza
Parasitário
Privilegiado
Tença
Subsídio
Bibliografia:
COELHO, M. F. A Evolução Social entre 1481 e 1640. História de Portugal. (Direcção de José Hermano Saraiva).

Classes sociais-Ordens Monásticas
"A maior parte das ordens monásticas decaiu consideravelmente durante todo este período, decadência revelada tanto no decréscimo dos rendimentos como na crescente relaxação dos costumes."

Outras Informações
Dicionário:
Clero regular
Ordem religiosa
Bibliografia:
MARQUES, O. História de Portugal.

Classes sociais-Classe Média Urbana
"A classe média urbana é composta por "(...) dois grupos sociais de características bem diferentes, mas que ainda hoje andam confundidos sob a mesma designação de classe média: uma classe média autêntica, porque enraizava no trabalho e se situava ao nível social correspondente a uma verdadeira situação económica, e uma classe média fictícia e parasitária, baseada na aparência e que vivia à custa das classes produtivas. (...) De todo o País milhares de jovens afluem à Corte, cantam trovas, tangem a guitarra, fingem de escudeiros e morrem de fome até que encontrem senhor que os tome a seu serviço ou mulher rica que os sustente. (...) Um clérigo que por essa altura estava em Évora e que viera do Brabante, onde o trabalho era a vida de toda a gente, surpreende-se com o que vê em Portugal e escreve: "Esta gente prefere ter de suportar tudo a ter de aprender algum ofício". Mas também isso se relacionava com a economia dos descobrimentos. 0 Estado, (...) enriquecido, pudera multiplicar a sua clientela. (...) Quem tivesse qualidades, desembaraço, ou pelo menos padrinhos, não precisava de trabalhar, e portanto trabalhar significava que não se tinha nada disso. Era uma desqualificação. Trabalhar com o corpo era o que faziam os Negros e os Mouros; frases do tipo "0 trabalho é bom para o preto" e "Quem não tem padrinhos morre mouro" entraram por essa altura na linguagem."

Outras Informações
Dicionário:
Escudeiro
Mouros
Parasitário
Trovador
Clérigo
Tanger
Bibliografia:
COELHO, M. F. A Evolução Social entre 1481 e 1640. História de Portugal. (Direcção de José Hermano Saraiva).

Classes sociais-O 3º Estado
"Dentro do povo, eram de distinguir, (...) quatro grandes categorias pelo menos: legistas, cidadãos, artesãos e todos os demais.
Os legistas, que visavam obter privilégio de nobre e o conseguiram em parte, tinham subido de número e de importância. Constituíam uma classe especializada de funcionários públicos, magistrados, advogados e conselheiros legais, professores universitários e outros semelhantes. (...) Na sua maior parte, dependiam de salários pagos pela Coroa, mas beneficiavam ainda, largamente, de contribuições e serviços garantidos pelo povo, na forma de alojamento, alimentação, etc. (...)
Os cidadãos, também chamados homens bons, gente honrada e gente limpa - porque não trabalhavam com as mãos -, formavam uma classe de proprietários e mercadores que igualmente sabiam investir em terra parte dos seus lucros. (...) Poderíamos também taxá-los de burgueses. Embora o seu poderio económico e político houvesse aumentado dentro do País, a participação que detinham no comércio externo e ultramarino declinou a favor dos estrangeiros, da Coroa, da família real, da nobreza e dos burocratas."
Seguem-se-lhes os artesãos. "As atividades artesanais continuam a desempenhar papel secundário nas necessidades do País."
"Apesar de tudo, nas principais cidades vão-se desenvolvendo os Grémios de Artes e Ofícios, (...) havendo, nos meados do século XVI, só em Lisboa, 81 classes de mesteres diferenciados, entre os quais, em maior número, os carpinteiros e costureiras, e ainda muitos pintores, iluminadores, ourives, etc."
"Abaixo dos mesteirais vinha o imenso mundo dos que nada possuíam, nem terras, nem casas, nem ferramentas; os que trabalhavam para os outros, como jornaleiros nos campos ou operários contratados nas cidades; os servidores; os muitos vendedores e vendedeiras, lavadeiras, etc."

Outras Informações
Dicionário:
Burguesia
Comércio externo
Homens-bons
Mercador
Mesteiral
Nobreza
Privilégio
Ultramar
Bibliografia:
MARQUES, O. História de Portugal.

Classes sociais- Sociedade rural (1)
"De todas as classes, a que se encontrava em pior condição era a dos camponeses, sobrecarregada de tributos senhoriais e de impostos gerais, e sujeita à expoliação e vexames dos privilegiados, especialmente pelo gravoso encargo das aposentadorias ou pousadorias, quando os nobres permaneciam, de passagem, nas povoações rurais. 0 encargo, oneroso e vexatório, das aposentadorias consistia em os nobres e suas comitivas, ao chegarem a uma localidade onde não havia hospedarias, se aposentarem na casa dos lavradores, dispondo dos haveres destes como de propriedade sua (tomadias) e cometendo toda a espécie de abusos - o que provocava justos e repetidos protestos, em Cortes, contra tão odioso encargo."

Outras Informações
Dicionário:
Nobreza
Privilegiado
Tributo
Bibliografia:
AFONSO, A. M. Curso de História da Civilização Portuguesa. 2ª edição. Porto: Porto Editora.

Classes sociais- Sociedade rural (2)
"(...) 0 proletariado campesino (...) era uma classe que agonizava. Em 1521, uma fome terrível assolou os campos, tendo morrido pelos caminhos muitos camponeses que tentavam chegar a Lisboa. A carne, base da alimentação durante a Idade Média, era agora rara; (...) dois estrangeiros que viajavam por Portugal surpreendem-se da pobreza da alimentação popular: sardinha salgada e pão escuro. A riqueza ultramarina não chegava ao campo, mas as suas consequências repercutiam nele. Os proprietários, do clero ou da nobreza, faziam pressão para obter cada vez mais de um solo que produzia cada vez menos, porque a quantidade dos gados e portanto dos estrumes diminuía, porque os braços fugiam sob o impulso de um estímulo duplo: a recusa da miséria e a cobiça da fartura que a cidade parecia oferecer. A luta por um salário melhor já não era possível, porque um trabalho igual ao do cavador aldeão podia ser prestado pelo escravo negro (...)."

Outras Informações
Dicionário:
Clero
Escravo
Nobreza
Ultramar
Bibliografia:
SARAIVA, J. H. História Concisa de Portugal. Publicações Europa-América. 6ª edição.

Classes sociais-Escravos (1)
"E se, sob o ponto de vista moral, a empresa da Índia trouxera essas consequências desastrosas, o prejuízo não tinha sido menor em vidas e fazendas. (...) Daí a necessidade de suprir com escravos o deficit da população livre. (...)
No tempo do D. João III, em 1535, escrevia Clenardo (humanista flamengo que viveu em Portugal): "Os escravos pululam por toda a parte. Todo o serviço é feito por negros e mouros cativos. Portugal está a abarrotar com essa raça de gente. Estou em crer que em Lisboa os escravos e as escravas são mais que os portugueses livres de condição."
Havia exagero no cômputo de Clenardo, mas o certo é que o trato dos escravos se intensifica desde o princípio do século XVI, mercê das novas terras descobertas, onde fomos encontrar o comércio da escravatura estabelecido, mercê da necessidade cada vez maior de braços e mercê ainda dos hábitos de ociosidade que cada vez se difundiam mais."

Outras Informações
Dicionário:
Défice
Escravatura
Escravo
Trato
Ociosidade
Imagens:
SQ-Escravos
Bibliografia:
Dir. de Damião Peres. História de Portugal. Edição de Barcelos.

Classes sociais-Escravos (2)
"Os escravos «trabalhavam na limpeza das ruas, no transporte de água, na venda de alimentos ao público, no serviço portuário e em casa dos amos, sua principal ocupação»."

Outras Informações
Dicionário:
Escravo
Imagens:
SQ-Escravos
Bibliografia:
SERRÃO, J. V. (1978). História de Portugal. Vol.III - 0 Século de Ouro (1495-1580). 2ª edição, revista. Editorial Verbo.

Classes sociais-Escravos (3)
"A escravatura, que tanto repugna à nossa mentalidade de hoje, foi um tráfico desumano, mas já existia entre os povos africanos antes da chegada ali dos Portugueses, e todos os povos a praticaram. Não obstante as violências que fatalmente a acompanharam, a escravatura correspondeu a uma necessidade do ambiente histórico da época e desempenhou uma notável função económica."

Outras Informações
Dicionário:
Escravatura
Escravo
Tráfico
Imagens:
Transporte de Escravos (1)
Transporte de Escravos (2)
Bibliografia:
AFONSO, A. M. Curso de História da Civilização Portuguesa. 2ª edição. Porto: Porto Editora.

Classes sociais-Judeus e Mouros (1)
"Como elementos étnicos estranhos, existiam no seio da população cristã muitos judeus, os quais, depois da conversão forçada, no reinado de D. Manuel, foram designados por cristãos-novos, constituindo uma classe "sui generis" com poderosa força económica e geralmente odiada pelos velhos cristãos."

Outras Informações
Dicionário:
Conversão
Cristãos-Novos
Etnia
Bibliografia:
AFONSO, A. M. Curso de História da Civilização Portuguesa. 2ª edição. Porto: Porto Editora.

Classes sociais-Judeus e Mouros (2)
"Os judeus "(...) e os maometanos, eram um elemento importante da nossa vida social. Laboriosos e flexíveis, os Judeus primavam nos ofícios manuais, nos tratos mercantis, nas agências lucrativas; e os "mouros", por seu lado, salientavam-se nas profissões liberais e no granjeio das propriedades. Havia aldeias compostas inteiramente de judeus, que exerciam, com os mouros, quase todas as indústrias."

Outras Informações
Dicionário:
Mouros
Trato
Bibliografia:
SÉRGIO, A. Breve Interpretação da História de Portugal. Edição crítica orientada por Castelo Branco Chaves, Vitorino Magalhães Godinho, Rui Grácio e Joel Serrão e organizada por Idalina Sá da Costa e Augusto Abelaira. Livraria Sá da Costa Editora. Lisboa.

Classes sociais-Judeus e Mouros (3)
"Para fugirem ao rigor da Inquisição, centenas de criptojudeus preferiram abandonar o Reino ao longo do século XVI (...). 0 êxodo desses cristãos-novos traduziu-se numa perda considerável para Portugal, pela riqueza económica e a vitalidade social com que passaram a valorizar as terras que os acolheram."

Outras Informações
Dicionário:
Cristãos-Novos
Inquisição
Inquisição (2)
Inquisição (3)
Bibliografia:
SERRÃO, J. V. (1978). História de Portugal. Vol.III - 0 Século de Ouro (1495-1580). 2ª edição, revista. Editorial Verbo.

Classes sociais-Ciganos (4)
"Outro grupo que não pode ficar esquecido é o dos ciganos. "Nómadas e adestrados em toda a casta de atividades irregulares ou proibidas (roubo, engano, feitiçaria, etc.), suscitaram em 1526 uma proibição oficial ao seu ingresso, que se renovou vezes sem conta mas jamais conduziu ao resultado desejado."

Outras Informações
Dicionário:
Nómada
Bibliografia:
MARQUES, O. História de Portugal.

Classes sociais-Estrangeiros
O comércio marítimo atraía a Portugal numerosos estrangeiros.
"Com o século XVI veio a alargar-se esse quadro social: por um lado, graças à criação ou surto de atividades profissionais, como a tipografia, a ourivesaria e a relojoaria; por outro lado, pela vinda de mestres estrangeiros para o ensino nos colégios e universidades; (...). A participação estrangeira no comércio das especiarias e do pau-brasil fez-se sentir [desde cedo]. Foi assim que se instalaram em Portugal troncos estrangeiros que, em alguns casos, se vieram a nobilitar pela riqueza e pelo casamento."

Outras Informações
Dicionário:
Comércio externo
Especiarias
Pau-brasil
Nobilitação
Bibliografia:
SERRÃO, J. V. (1978). História de Portugal. Vol.III - 0 Século de Ouro (1495-1580). 2ª edição, revista. Editorial Verbo.

Atividades económicas- Agricultura (1)
"As duas principais características da agricultura portuguesa entre 1450 e 1550 foram provavelmente a nova fase de arroteias e a introdução de novas culturas, em especial o milho.
Não dispomos de análises pormenorizadas das novas arroteias, tão semelhantes às da grande expansão dos séculos XII e XIII. Todavia, um contacto demorado com a documentação dos finais da Idade Média permite afirmar, sem sombra de dúvida, que essa nova tendência se registou. Por todo o País, mas sobretudo ao longo dos vales dos rios e nas planícies, terras baldias foram sendo convertidas em campos de cultura, bosques e matas queimados ou derrubados e lavrados por cima, pauis enxutos, e pastagens transformadas em searas e pomares. É, aliás, muito provável que raras vezes se tivesse ido além dos limites já alcançados duzentos ou trezentos anos atrás, e perdidos aquando da crise.
Nos séculos XII e XIII, a maior parte das terras arroteadas semeara-se de trigo, centeio e outros cereais; nos séculos XV e XVI, preferiram-se vinhas e olivedos, tendência muito típica dos finais da Idade Média com base nos maiores proventos que ao lavrador traziam o vinho e o azeite e na menor quantidade de mão-de-obra exigida. Em consequência, aumentou a produção de vinho e de azeite, enquanto a de cereais permanecia estacionária ou decrescia até."

Outras Informações
Dicionário:
Arrotear
Baldio
Mão-de-obra
Bibliografia:
MARQUES, O. História de Portugal.

Atividades económicas- Agricultura (2)
"Se algures a agricultura foi tida em desprezo, é incontestavelmente em Portugal. E, antes de mais nada, ficai sabendo que aquilo que faz o nervo principal duma nação é aqui duma debilidade extrema; para mais, se há algum povo dado à preguiça, sem ser o português, então não sei eu onde ele exista. Falo sobretudo de nós outros, que habitamos além do Tejo, e que respiramos de mais perto o ar de África. Se uma grande quantidade de estrangeiros e de compatriotas nossos não exercessem cá as artes mecânicas, creio bem que mal teríamos sapateiros, ou barbeiros."

Carta de Clenardo a Látomo

Outras Informações
Dicionário:
Agricultura
Atividades económicas- Indústria
"As atividades artesanais continuaram a desempenhar papel secundário nas necessidades do País. Além de alguns têxteis de inferior qualidade (o veludo constituía exceção), e de algumas "indústrias" ligadas à agricultura e a fins domésticos imediatos, só a ourivesaria adquiriu certo renome. Tentativas esporádicas de melhorar a qualidade do artesanato nacional levaram a fracassos ou só excecionalmente resultaram. Deve ter-se desenvolvido a metalurgia, conquanto viessem do estrangeiro as melhores armas e armaduras. As únicas "indústrias" realmente importantes foram a construção naval e a produção de biscoito, que empregaram vasto número de obreiros e demandaram avultados capitais. Ambas pertenciam à Coroa. Na construção naval, com todos os seus acessórios, os modelos e as técnicas foram sendo constantemente inovados, alcançando os navios portugueses fama e procura internacionais."

Outras Informações
Dicionário:
Agricultura
Imagens:
Lisboa - Ribeira das Naus
Construção de Barcos
Bibliografia:
MARQUES, O. História de Portugal.

Atividades económicas- Comércio Interno
"Poucas alterações se registaram nas práticas do comércio interno. Não se haviam modificado ainda os princípios e os modos medievais de intercâmbio, embora se começasse a afirmar a tendência para um mercado nacional devido à centralização do poder do rei e ao sistema alfandegário mais preciso. Ao longo da raia foi-se forjando toda uma cadeia de cidades e vilas aduaneiras - os chamados portos secos, em oposição aos portos marítimos cujo objetivo consistia em fechar o País e ajudar à criação de uma economia nacional.
A importância das feiras no tráfico interno começou lentamente a declinar, embora tivessem desempenhado ainda papel de relevo durante a primeira metade do século XVI."

Outras Informações
Dicionário:
Centralização do poder
Comércio Interno
Tráfico
Feira
Bibliografia:
MARQUES, O. História de Portugal.

Atividades económicas- Comércio Externo (1)
"Toda a riqueza do Oriente passava apenas por Portugal, e ia fomentar o trabalho estrangeiro, que nos fornecia de todas as coisas. As fomes sucediam-se e era necessário endividar-se a Coroa para comprar cereais no mercado da Flandres. Em 1521 o aperto da fome foi tal que os pobres, correndo em bandos para Lisboa, caíam rendidos de forças pelas estradas, e ali jaziam sem sepultura (muito antes dessa data já o País importava de África todos os anos, segundo diz um escritor, 388.000 moios de trigo e 670.000 de cevada). Em fins de 1543 deviam-se em Flandres somas enormes, além das que se tomavam em letras "a tão altos preços que se dobra o dinheiro em quatro anos".

Outras Informações
Dicionário:
Moio
Flandres
Bibliografia:
SÉRGIO, A. Breve Interpretação da História de Portugal. Edição crítica orientada por Castelo Branco Chaves, Vitorino Magalhães Godinho, Rui Grácio e Joel Serrão e organizada por Idalina Sá da Costa e Augusto Abelaira. Livraria Sá da Costa Editora. Lisboa.

Atividades económicas- Comércio Externo (2)
"A expansão ultramarina trouxe para o comércio português dos fins da Idade Média um novo e decisivo elemento, a saber, a introdução de toda uma gama de mercadoria exótica e cara, antes desconhecida ou só raramente divulgada. Foi o caso de produtos como o ouro, o açúcar, as especiarias, os escravos, certos tipos de madeira, o marfim, matérias corantes, etc., que começaram a entrar no País em quantidades cada vez maiores a partir de meados do século XV. Artigos como estes, não apenas se iam tornando mais e mais relevantes no que respeitava à procura e às necessidades de mercado, como também ultrapassaram, em valor económico, todos os outros produtos anteriormente exportados. Esta tremenda alteração no conteúdo do comércio a distância converteu Portugal, de mero exportador de matérias-primas, em intermediário entre a Europa e a África (ou as ilhas atlânticas), e mais tarde, entre a Europa e a América também. A nova posição assumida por Portugal iria tornar-se constante histórica até ao presente, explicando aquilo a que alguns têm chamado o seu papel económico "parasitário", mas igualmente uma das mais importantes contribuições portuguesas para a economia e o progresso mundiais."

Outras Informações
Dicionário:
Comércio externo
Escravatura
Escravo
Especiarias
Exportação
Importação
Intermediário
Matéria-prima
Parasitário
Ultramar
Bibliografia:
MARQUES, O. História de Portugal.

Classes sociais-Nobreza (luxo)
"Na sala forrada de riquíssimos panos da Flandres (...) havia um aparador contendo peças de ouro, de prata. (...) A mesa estava delicadamente ornada e coberta com toalhas da Bretanha e tela da Índia (...). Os manjares eram abundantes (...) e na maior parte pouco agradáveis ao paladar, porque lhes deitavam, à toa e em todos, grandes quantidades de açúcar, canela, especiarias (...). Constavam os manjares de javali e veado, pavões, perdizes e boas carnes, entre as quais a galinha era excelente. Vieram muitas frutas cristalizadas que tornaram a polvilhar de açúcar (...)
(...) 0 Duque de Bragança... vinha vestido com uma capa de pano raso, abotoado o capuz com diamantes e fecho de ouro, e as bandas compridas e apresilhadas com rubis e ouro; o barrete era de veludo com fios de rubis, diamantes, pérolas e ouro; as calças eram de veludo azul-escuro agaloadas de ouro (...).
(...) A Duquesa trazia um vestido de veludo preto cheio de espiguilhas galantes de ouro, rubis e diamantes, com meias mangas, abertas ao meio com rede de ouro (...), diamantes e rubis ao peito e pulseiras e brincos de grossíssimas pérolas."

Relato de João Baptista Venturino
(adaptado)

Outras Informações
Dicionário:
Especiarias
Flandres
Imagens:
IM-Banquete numa residência nobre
Classes sociais-Escravos (transporte)
"Os homens eram empilhados no fundo do porão, acorrentados, com receio que se revoltassem e matassem todos os brancos que iam a bordo. Às mulheres reservavam a segunda entrecoberta. As que estavam grávidas eram reunidas na cabina de trás. As crianças eram amontoadas na primeira entrecoberta como arenques (peixe) no barril. Se quisessem dormir, caíam uns por cima dos outros. Havia sentinas, mas como muitos tinham medo de perder o seu lugar, faziam aí mesmo as suas necessidades de maneira que o calor e o cheiro se tornavam intoleráveis."

Notícia do Padre Carli
(adaptado)

Outras Informações
Dicionário:
Escravatura
Escravo
Imagens:
Transporte de Escravos (1)
Transporte de Escravos (2)
Atividades económicas - Comércio Externo
"A Casa da Índia (junto aos passos reais da Ribeira e para oeste deles) era ao mesmo tempo o que hoje chamaríamos uma alfândega, uma capitania do porto e um ministério das colónias. Adjacentes a ela estavam a Ribeira das Naus (onde se construíam os navios) e os armazéns (dos materiais para a construção naval, dos mantimentos).
Compreendia a Casa da Índia quatro grandes repartições ou "mesas": a mesa das drogas, onde se despachava a especiaria; a mesa grande, onde se despachavam a pedraria e os tecidos; a das armadas, que tinha a seu cargo o assento das tripulações dos navios e demais gente que seguia para a Índia; e a mesa do tesoureiro, onde eram pagos os direitos."

Outras Informações
Dicionário:
Casa da Índia
Especiarias
Imagens:
Lisboa - Ribeira das Naus
Bibliografia:
SÉRGIO, A. Breve Interpretação da História de Portugal. Edição crítica orientada por Castelo Branco Chaves, Vitorino Magalhães Godinho, Rui Grácio e Joel Serrão e organizada por Idalina Sá da Costa e Augusto Abelaira. Livraria Sá da Costa Editora. Lisboa.

Atividades económicas - Comércio Externo
"... ali se tratam os negócios da Índia e, por isso, lhe dão o nome de Casa da Índia.
Contudo, a mim me parece que se deve chamar o empório dos aromas, pérolas, rubis, esmeraldas e de outras pedras preciosas que, de ano em ano, nos são trazidos da Índia; talvez com maior verdade, se lhe pudesse chamar o armazém da prata e do ouro, quer em barra, quer trabalhada.
Ali estão patentes, para quem os quiser admirar, inúmeros compartimentos, distribuídos com ordem e arte, tão recheados com aquelas preciosidades todas que - palavra - mal se poderia acreditar, se os olhos não vissem tais maravilhas e as mãos não lhes tocassem."

Damião de Góis - "Descrição de Lisboa"

Outras Informações
Dicionário:
Casa da Índia
Empório
Classes sociais- Escravos (4)
"Os escravos pululam por toda a parte. Todo o serviço é feito pelos escravos e mouros cativos Estou em crer que em Lisboa os escravos e escravas são mais que os portugueses de livre condição!
Dificilmente se encontrará uma casa onde não haja, pelo menos, uma escrava. É ela que vai ao mercado comprar as coisas necessárias, que lava a roupa, varre a casa, acarreta a água e faz os despejos à hora conveniente: numa palavra, é uma escrava, não se distinguindo de uma besta de carga senão na figura.
Os mais ricos têm escravos de ambos os sexos e há indivíduos que fazem bons lucros com a venda dos filhos dos escravos, nascidos na casa."

Carta de Clenardo a Látomo

Outras Informações
Dicionário:
Escravatura
Escravo
Imagens:
SQ-Escravos
Classes sociais- Luxo
«Creio que chega a havê-los com menos rendimento do que eu e que trazem uma comitiva de oito criados.
Mas para que serve tal séquito?
Não falta que fazer a cada um, embora todos levem uma vida regalada: dois caminham adiante; o terceiro leva o chapéu de plumas, o quarto o capote do senhor; o quinto pega na rédea da cavalgadura; o sexto é para ajustar os estribos aos sapatos de seda do patrão; o sétimo afasta as moscas e traz uma escova para limpar os pelos do fato; o oitavo uma toalha de linho para enxugar o suor da besta, enquanto o amo ouve missa ou conversa com algum amigo.»

Carta de Clenardo a Látomo

Outras Informações
Dicionário:
Séquito
Vida na Corte
"A vida no Paço era ostentosíssima. Os vestidos de cetim e veludo, bordados de ouro e de pedrarias, importavam-se de Itália e de França. As refeições do Rei eram acompanhadas de música. As mais belas tapeçarias forravam de cima e baixo as salas dos palácios. A prata e o ouro das baixelas tinham a importância de primorosas obras de arte, cinzeladas por artistas estrangeiros... "

Ramalho Ortigão, A Terra de Muitas e Desvairadas Gentes
(adaptado)

Outras Informações
Dicionário:
Baixela
Tapeçaria
Ostentação
Inquisição
"Se é delatado, às vezes por testemunhas falsas, qualquer desses mal-aventurados por cuja redenção Cristo morreu, os inquisidores arrastam-no a um calabouço, onde lhe não é lícito ver céu nem terra, e nem sequer falar com os seus para que o socorram. Acusam-no testemunhas ocultas, e não lhe revelam nem o lugar nem o tempo em que praticou isso de que o acusam. 0 que pode é adivinhar, e se atina com o nome tem a vantagem de não servir contra ele o depoimento dessa testemunha. Assim mais útil seria ao desventurado ser feiticeiro do que cristão. Escolhem-lhe depois um advogado que frequentemente, em vez de o defender, ajuda a levá-lo ao patíbulo. Se confessa ser cristão verdadeiro e nega com constância os cargos que dele dão, condenam-no às chamas e os seus bens são confiscados. Se confessa tais ou tais atos, mas dizendo que os praticou sem má tenção, tratam-no do mesmo modo, sob pretexto de que nega as intenções. Se acerta a confessar ingenuamente aquilo de que é culpado, reduzem-no à última indigência e encerram-no em cárcere perpétuo. Chamam a isto usar com o réu de misericórdia. 0 que chega a provar irrecusavelmente a sua inocência é, em todo o caso, multado em certa soma, para que se não diga que o tiveram retido sem motivo. Já se não fala em que os presos são constrangidos com todo o género de tormentos a confessar quaisquer delitos que se lhes atribuam. Morrem muitos nos cárceres, e ainda os que saem soltos ficam desonrados, eles e os seus, com o ferrete de perpétua infâmia. Em suma, os abusos dos inquisidores são tais que facilmente poderá entender quem quer que tenha a menor ideia da índole do cristianismo que eles são ministros de Satanás e não de Cristo."

Doc. cit. in A. JOSÉ SARAIVA - "A Inquisição Portuguesa", Publ. Europa-América, Col. Saber, Lisboa, 1964.

Outras Informações
Dicionário:
Confiscar
Inquisição
Inquisição (2)
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Auto de Fé
As doenças no tempo dos Descobrimentos
As doenças que afetam os portugueses nem sempre foram as mesmas.
A época dos Descobrimentos, tão importante pelo contacto com culturas diferentes e pelo desenvolvimento que proporcionou ao país, trouxe novas doenças e problemas médicos.
Os Descobrimentos vieram também alterar a hierarquia das causas de morte, colocando a guerra e os naufrágios em primeiro lugar nas estatísticas.
E, se a SIDA pode ser considerada a praga do século XX, a Peste Negra foi, sem dúvida, o espectro da morte no século XV.
Seguiram-se-lhe muitas outras doenças, novas e exóticas, como o paludismo, a cólera e o escorbuto, responsáveis por elevadas taxas de mortalidade e pelo enfraquecimento geral da população.
Entre 1602 e 1632, a cólera, a peste e o paludismo vitimaram, só no Hospital Real de Goa, cerca de 25 mil soldados.
O escorbuto, descrito pela primeira vez em 1552, por Fernão Lopes de Castanheda, foi a principal causa de morte a bordo das naus portuguesas.
Contam-se casos de naus com cerca de 500 pessoas, das quais nem uma dezena conseguiu escapar a esta doença.
No entanto, não era a única doença a bordo, nem sequer a mais importante, pois o historial clínico de cada viagem era muito relativo, dependendo das regiões em que se encontravam e das situações mais ou menos adversas que surgiam.
A "História Trágico-Marítima" é fértil em pormenores relativos à carência de bens alimentícios, em que se destaca, pela frequência com que sucedia, a escassez de vinho e, pela sua gravidade, o terrível pesadelo da falta de água.
Páginas e páginas relatando os desesperantes efeitos da desidratação, descrevendo a quebra de disciplina perante prolongados regimes de racionamento, encontram-se nos diários de bordo [de muitas] naus.
A fome, sede, exposição prolongada aos elementos naturais, ausência de higiene e, acima de tudo, a inexistência de cuidados médicos, remédios ou de uma simples enfermaria, favoreciam a doença, agravam o prognóstico: «... a morte colhia-os um a um, no convés da nau, expostos ao sol e à chuva».
Mas não eram apenas soldados e marinheiros que tombavam deste modo tão cru e impressionante, num abandono tal que muitos «morriam cobertos de piolhos».
Segundo Maria Benedita Araújo, «havia quase sempre mulheres e crianças, algumas de tenra idade» e eram estas, as mais fracas e indefesas, quem mais sofria, independentemente da sua condição económica ou social: donas e donzelas, fidalgas, meninos, mães dolorosas, sofriam os tormentos de tais viagens, recorrendo aos santos de sua devoção nas horas de maior perigo».
A dificuldade em produzir alimentos em quantidade suficiente e o constante clima de guerra deram origem a epidemias de grandes
dimensões, para as quais os médicos portugueses nem sempre tiveram resposta.
Pior eram as condições sanitárias. De acordo com Maria Benedita Araújo, «os passageiros vomitavam e faziam as suas necessidades uns sobre os outros, numa atmosfera nauseabunda, a que se acrescentava o forte odor do cordame, do couro e do pez».
Não é, por isso, de admirar que a falta de limpeza fosse uma das principais causas de' doença e morte. De tal modo, que severas medidas de higiene, como aquelas que foram tomadas pelo capitão-mor da nau Nossa Senhora do Bom Despacho, podiam salvar um número verdadeiramente milagroso de passageiros.
Por outro lado, os próprios tratamentos médicos efetuados a bordo não beneficiavam de grande qualidade.
Para quaisquer que fossem os males adquiridos ou já trazidos de terra, os remédios eram sempre os mesmos: sangrias, clisteres e purgas.
abuso das violentas purgas, por exemplo, era, muitas vezes, causa de morte a bordo.
Também, o número de sangrias era tão elevado que, em certas viagens, chegaram a ser praticadas mais de mil intervenções desta natureza: «A mesma pessoa podia ser sangrada cinco e seis vezes», conforme relata Maria Benedita Araújo, referindo «casos extremos que levariam a pessoa a ser sangrada doze vezes», chegando ao ponto de alguns diários anotarem «...acabou o sangue».
Em última análise, a responsabilidade da elevada mortalidade entre as tripulações e passageiros pode, até certo ponto, ser atribuída aos que planeavam e organizavam as viagens.
A desmesurada ambição dos armadores estava na origem da inexistência de médico ou cirurgião a bordo, excetuando as carreiras que transportavam membros da família real e da nobreza.
Por sua vez, a guerra, tão frequente nesta época, foi responsável pelo surgir de novos ferimentos (devido à existência de material bélico mais eficaz) e novas infeções, pelo que se tornou prática corrente as amputações e o recurso ao ferro em brasa, a maioria das vezes com resultados duvidosos.

A geração de um novo mundo
Os Descobrimentos portugueses permitiram o desenvolvimento de uma mentalidade científica e um novo gosto pela investigação. Neste contexto, não será de estranhar que algumas das especialidades médicas da atualidade tivessem o seu início nesta época, nomeadamente a ginecologia, farmacologia, higiene, cirurgia, anatomia, urologia, oftalmologia e botânica médica.
Tal como na moderna medicina aeronáutica, os portugueses de Quinhentos procuraram dar resposta às inúmeras dúvidas e aos obstáculos tecnológicos que lhes surgiram.
À semelhança do que aconteceu há cinco séculos atrás com a medicina de alto-mar e tropical, a medicina aeronáutica é hoje considerada um ramo totalmente novo do conhecimento médico.
A medicina dos nossos dias volta a confrontar-se com o problema da adaptação a ambientes desconhecidos e a tensão emocional provocada pela duração da viagem, tal como aconteceu com os marinheiros portugueses, que enfrentaram longos períodos em alto mar e condições climatéricas desfavoráveis. A descoberta de novas terras e de novos povos permitiu, há quinhentos anos atrás, a descoberta de novas plantas e substâncias fundamentais no tratamento de algumas doenças. Na realidade, a medicina moderna deve muito à persistência e ao espírito inquiridor dos médicos portugueses.
João de Barros foi o primeiro a avançar com uma hipótese para as causas do escorbuto, atribuindo-o ao consumo excessivo de peixe salgado, biscoitos alterados e outros alimentos em más condições.
Apesar de as vitaminas ainda serem desconhecidas dos médicos desta época, os portugueses cedo descobriram as vantagens dos citrinos e de uma certa qualidade alimentar na prevenção do escorbuto.
Doenças como a sífilis, a cólera e a febre-amarela, tão comuns naqueles tempos, conseguiram sobreviver até aos nossos dias, apesar do desenvolvimento da Medicina.

(Cláudia Silva, em Cadernos de Saúde, 1994-06-25)

in NEVES, P. ª e outros. Ao encontro da História. Porto Editora.

Outras Informações
Bibliografia:
NEVES, P. A.; ALMEIDA, V.C. (1996). Ao Encontro da História. Porto: Porto Editora.

Quem vivia no Brasil antes da chegada dos Portugueses?
Antes da chegada dos Portugueses o Brasil era habitado por dois grupos: os tupi-guarani e os arawak.
Estes povos dividiam-se em tribos como, por exemplo: os tupiniquis, os tupinambás, os caetés, os tamoios, etc. Ficaram conhecidos pela designação de índios porque quando Cristóvão Colombo descobriu a América Central, em 1492, julgou que tinha chegado à índia. O nome abrangeu todas as populações do Novo Mundo. As diversas tribos viviam bem adaptadas ao seu meio ambiente, tanto que as que habitavam
Litoral como as que ocupavam o interior das florestas densas e repletas de animais perigosos como onças, serpentes, insetos transmissores de doenças. Praticavam a caça, a pesca, cultivavam mandioca, milho, feijão, batata-doce, abóbora, amendoim e banana nas planícies, nas bacias dos rios e nas clareiras da floresta. As aldeias eram constituídas por cabanas de troncos cobertas por folhagem. Cada cabana era ocupada por membros da mesma família, chegando a abrigar- trinta ou quarenta pessoas. Dormiam em redes suspensas em troncos e não possuíam mais mobília. Cozinhavam os alimentos em fogueiras acesas no interior da cabana.
Ao primeiro contacto, pensou-se que eram extremamente pacíficos. Puro engano! Entre as várias tribos havia lutas constantes pela posse do território e os homens orgulhavam-se das qualidades demonstradas na guerra. Possuíam arcos, flechas, lanças e, em caso de necessidade, chamavam as mulheres para combater.
As batalhas entre índios eram espetaculares.- Todos tinham uma pontaria fantástica e enfeitavam-se a si próprios e às armas com pinturas e penas.
Algumas tribos praticavam o canibalismo. A carne dos adversários mortos era distribuída em comida
pelo grupo, com uma exceção: o guerreiro que matasse um inimigo não provava dessa carne. Besuntava-se com o seu sangue, as caveiras eram guardadas como troféus de guerra e espetadas em paus à volta das cabanas. Os dentes serviam para fazer colares.
Também havia tribos que comiam a carne dos parentes mortos em sinal de respeito. Tudo isto pode chocar os Europeus mas deve ser entendido como um ritual da religião que praticavam.
Acendiam o fogo. Podiam eventualmente tatuar a mulher, não por obrigação, mas como manifestação de carinho.
Os índios casavam quase sempre com elementos dá mesma família, por exemplo tio com sobrinha, primo com prima. Podiam ter várias esposas, em média três ou quatro.
As crianças pertenciam sobretudo ao pai. Procuravam educá-las de modo a que respeitassem os adultos. As relações entre as pessoas do mesmo sangue eram muito carinhosas. Alegres e brincalhões, os pequenos índios assobiavam como pássaros e aprendiam a cantar e a dançar ao som de instrumentos muito simples, geralmente cabaças com pedrinhas lá dentro.
A religião- incluía deuses e demónios, a quem faziam oferendas para evitar desgraças como trovões e catástrofes ameaçadoras. Entre as histórias relacionadas com a fúria divina referiam-se ao dilúvio que em tempos inundara toda a Terra.
Acreditavam na imortalidade da alma e no Paraíso. No outro mundo esperava-os um campo cheio de árvores de fruto onde não fariam outra coisa senão cantar e dançar junto às margens de um rio.
Os tupi-guarani tinham uma língua comum, com variações de tribo para tribo, variações que não os impediam de se entenderem.
Antes da chegada dos Portugueses, as tribos todas em conjunto somavam entre dois e três milhões de pessoas.
A vida quotidiana também obedecia a regras. As mulheres ocupavam-se com as atividades agrícolas e a recolha de frutos e plantas. Colaboravam na pesca e a elas competia o transporte de animais abatidos. Fabricavam farinha, preparavam os alimentos faziam óleo de coco, fiavam algodão e teciam as redes. Também produziam cestos e objetos de cerâmica. Cuidavam dos animais domésticos. Competia-lhes cuidar dos filhos e depilar e pintar com tatuagens o corpo dos homens. Uma vida bem dura, portanto.
Quanto aos homens, derrubavam árvores e preparavam a terra para ser cultivada, caçavam e pescavam com flechas e redes e tinham a seu cargo o fabrico de canoas e armas, bem como a construção de cabanas.

(Em Os Descobrimentos Portugueses: As Grandes Viagens, Luís Albuquerque,
Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, Ed. Caminho)

Outras Informações
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1500-Chegada ao Brasil
Bibliografia:
NEVES, P. A.; ALMEIDA, V.C. (1996). Ao Encontro da História. Porto: Porto Editora.

Divertimentos - O jogo da péla
A péla era um jogo muito em voga desde a Idade Média, sendo praticado com ardor por homens e mulheres, nobres e burgueses. A bola era batida com uma raqueta ou com uma massa, e o jogo era disputado tanto nos jardins e nos fossos dos castelos como em salas amplas onde se pudesse colocar a rede.
Entre nós, porém, ainda se joga-a péla. Este jogo é muito usado na Beira Baixa, disputando-se, por equipas, geralmente entre dois grupos de aldeias próximas.' Naturalmente, o jogo está muito modificado e apenas o seu nome evoca o jogo que se praticava há centenas de anos atrás. Não seria mesmo de surpreender se se soubesse que apenas o nome da bola (péla) tinha dado o título ao jogo atual.
Pouco material é necessário para a prática deste jogo: basta um banco e uma bola de trapos com peso e tamanho médios.
Os dois grupos podem ter um número qualquer de jogadores. A duração do encontro não é subordinada ao relógio, isto é, não há tempo determinado para concluir' uma partida. A presença de um árbitro é aconselhável para, como elemento neutral e imparcial, esclarecer qualquer dúvida ou aplanar algum atrito que possa surgir.
Como decorre o jogo? Começa-se por deitar o banco, de lado, no solo, e escolhe-se, lançando uma moeda ao ar, o grupo que há de ficar perto dele. Assim, este grupo dispõe-se em fila indiana,
do lado das pernas do banco, à retaguarda dele o outro grupo dispersa-se no terreno a determinada distância.
0 primeiro jogador que está atrás do banco pega na bola e atira-a com força em direção aos adversários: estes procuram apanhar a bola com as mãos, sem a deixar cair no chão. Se conseguem apanhar a bola, o jogador que a lançou fica fora do jogo. A bola é então passada ao segundo jogador, e assim sucessivamente até que todos os jogadores desse grupo estejam fora de jogo. Se, pelo contrário, os adversários do lançador não conseguem agarrar a bola, o jogador que a lançou vai para o fim da fila e lançará a péla de novo quando chegar a sua vez.
A bola que não foi agarrada pelos elementos de um grupo é atirada por um desses jogadores, pelo solo, rolando em direção ao banco de modo a bater no tampo deste.
Quando a equipa que lança tiver todos os seus jogadores fora de jogo, troca de posição com a equipa adversária. Então é a vez desta equipa lançar a péla e da outra a apanhar sempre que possa.
O jogo decide-se por meio de uma pontuação. A contagem dos pontos faz-se do seguinte modo: a bola foi atirada, mas não foi apanhada pelo adversário - conta-se um ponto para a equipa do lançador; a bola, quando lançada rente ao solo em direção ao banco, vale dois pontos se tocou no tampo e não vale qualquer ponto se não lhe acertou.
Vence a equipa que, depois de ter jogado ao ataque e à defesa, obtiver um número mais elevado de pontos.
(Paula Bárcia e outras, A Propósito do Século XVI, M.E.)

Outras Informações
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Jogo da Péla
Bibliografia:
NEVES, P. A.; ALMEIDA, V.C. (1996). Ao Encontro da História. Porto: Porto Editora.

Lisboa na época dos descobrimentos
“Os viajantes estrangeiros que, no Século XVI, chegavam a Lisboa ficavam espantados com a beleza e a imponência da cidade. A capital portugueso era, de facto, por essa data, uma das maiores e mais belas cidades europeias, justificando o adágio que dizia que “quem não viu Lisboa não viu coisa boa”.
É verdade que, já desde o século XIV, Lisboa se tornava um importante porto comercial, mas foi com os Descobrimentos e a vinda de enormes riquezas provenientes da Africa, do Oriente e do Brasil, que a cidade cresceu em número de habitantes e de edifícios e ergueu alguns dos monumentos que a vão engrandecer e tornar inconfundível. Infelizmente, o terramoto de 1755 destruiu muitos dessas construções, mas as que restam podem dar-nos uma imagem do que terá sido a cidade no tempo em que as pesadas naus da Carreira da Índia entravam na barra do Tejo carregados de especiarias e em que mercadores de toda a Europa aqui as vinham buscar para as levar aos seus países.
O coração da cidade era o Terreiro do Paço (hoje, Praça do Comércio). Aí se situava a zona mais movimentada do porto, uma vez que o rio era nessa altura muito mais profundo e tinham sido construídos propositadamente vários para cais para acostagem dos navios. O nome de Terreiro do Paço deriva do facto de o rei D. Manuel I ter mandado construir aí o palácio real (paço = palácio), um grade e luxuoso edifício, que foi crescendo ao longo dos tempos, mas que o terramoto e o maremoto que se lhe seguiu, arrasaram completamente.
Nos baixos do palácio régio, na parte que ficava perpendicular ao rio, estava instalada a Casa da Índia, que administrava todo o comércio com o Oriente. Um grande número de funcionários tratava de avultadas quantias. No outro extremo da praça, no lado esquerdo de quem está virado para o rio, localizava-se a Alfândega e também o Terreiro do Trigo, um enorme edifício onde se recolhiam os cereais com que se abastecia a cidade de Lisboa.
Outra importante era o Rossio, onde se situavam vários palácios e um grande hospital, o Hospital de Todos os Santos. Foi no Rossio que se realizou, durante muito tempo, a Feira da Ladra. No entanto, a artéria mais movimentada de Lisboa era a rua Nova dos Mercadores, com quase trezentos metros de comprimento e dez de largura, onde se podia comprar de tudo, dos artigos mais vulgares aos mais luxuosos, da simples guloseima às joias ou aos tecidos requintados. Aí se cruzavam mercadores vindos das várias partes do mundo com lisboetas de todas as classes sociais, incluindo os escravos africanos, que constituíam então cerca de 10 por cento da população da cidade.
Um viajante que visitasse Lisboa não deixaria de ir ver também alguns notáveis edifícios religiosos acabados de construir ou ainda em construção nessa época, particularmente o belíssimo e majestoso Mosteiro dos Jerónimos. E, quase ao lado, não resistiria a dar uma espreitadela à Torre de Belém que, embora erguida como Fortaleza destinada a defender o porto de Lisboa da entrada de navios inimigos, era, e é, uma verdadeira joia arquitetónica, de tal forma que se tornou um dos símbolos da capital portuguesa.”

Turma X. Editorial O Livro.


Outras Informações
Dicionário:
Carreira da Índia
Imagens:
Lisboa - Rua Nova dos Mercadores
Lisboa - Mosteiro dos Jerónimos
Lisboa - Torre de Belém
Lisboa na época dos Descobrimentos
Lisboa - Rua Nova dos Mercadores
Lisboa - Torre de Belém (2)